Fomento das desigualdades Versão para impressão
Quinta, 27 Março 2014

 

pobreza. Sem título. flickr.com.Lanpernas DospuntozeroOs números de pobreza e carência económica, apresentados esta semana, revelam o que o discurso sobre a saída do programa da troika, limpa ou suja, esconde. As opções políticas da direita resultaram num profundo agravamento das desigualdades sociais. 19% da população está em risco de pobreza, com rendimentos mensais inferiores a 400 euros, 55% dos jovens não conseguem deixar a casa dos pais e 40% vivem em carência extrema.

São estes os resultados das opções políticas classistas, que retiram salários e cortam no estado social para transferência direta para a finança, que centram o discurso na sustentabilidade da dívida para continuar o caminho da austeridade. Mas a retórica de "honrar os nossos compromissos" está gasta e longe de ser hegemónica. Os novos cortes já anunciados de 2 mil milhões de euros, que recairão uma vez mais em salários, pensões e prestações sociais, e os números de execução orçamental, ontem apresentados, falam por si. As políticas deste governo cortam brutalmente nos rendimentos do trabalho para sustentar um sistema financeiro especulativo. E este caminho será perpetuado se uma maioria social de esquerda não for capaz de o travar. A contribuição extraordinária do IRS irá continuar, novos sacrifícios serão exigidos, e os cortes não serão repostos. Medidas que PS sustenta quando afirma que não é possível repor os salários e pensões aos níveis de 2011.

Nas suas doutrinas de memorandos e tratados PS, PSD e CDS privilegiam as desigualdades. O maior condicionalismo económico do país será vinculado com a entrada em vigor do Tratado Orçamental, não sufragado pelos povos mas apoiado por PS, PSD e CDS. Os mesmo partidos que colocaram o país aprisionado às políticas da troika, assinaram o tratado que anulará por completo a soberania e a democracia do país.

É de definição entre esquerda e direita que falamos quando se discutem estas escolhas, pois falamos de políticas de classe. A perpetuação da austeridade justifica o abaixamento dos rendimentos do trabalho. Assinar o memorando com a troika e o tratado orçamental é escolher privilegiar o lado que está a ganhar na luta de classes, é permitir à burguesia mais acumulação de riqueza pelo esmagamento social.

Nas jornadas parlamentares do PSD, Teodora Cardoso, para além de defender mais um novo imposto sobre os rendimentos do trabalho -taxar os levantamentos bancários-, resumiu toda a filosofia inerente ao discurso da sustentabilidade da dívida. Dizia a presidente do Conselho das Finanças Públicas que em Portugal ""Os salários não vão, nunca, subir muito. Portugal vai competir com países com salários baixos". Aqui reside a escolha, baixar salários da classe trabalhadora para permitir a acumulação da burguesia.

10% dos mais ricos em Portugal ganha 11 vezes mais do que os 10% mais pobres. Em 2012, as grandes fortunas tiveram um aumento de 13%; Belmiro de Azevedo e Américo Amorim subiram no ranking dos mais ricos mundiais, enquanto isso 2 milhões de vidas em Portugal vivem com menos de 400 euros mensais e muitas outras não conseguem suportar as despesas com a habitação ou educação dos filhos.

Os sacrifícios não são para todos. Maria Luís Albuquerque apressou-se a assinar um despacho que garante aos membros da comissão instaladora do Banco de Fomento ordenados mensais de 15 mil euros. Para os gestores da banca os ordenados milionários e para o povo os cortes e sacrifícios.

É urgente acabar com este abismo social. É por isso tempo de sermos ainda mais exigentes.Para além do não pagamento de parte da divida, a abusiva e especulativa, é necessário colocar os responsáveis da crise a pagá-la. Temos de exigir a reposição de tudo o que nos foi retirado, salários, pensões, contribuições sociais, serviços públicos. É também necessário nacionalizar os sectores estratégicos da economia, para que estes não sirvam a acumulação de lucro mas sim o interesse da população. Estas são escolhas de esquerda. Só com medidas concretas podemos fazer renascer a esperança, dizer aos jovens e aos menos jovens que este país ainda tem futuro. Para isso é necessária uma maioria social com a consciência que a sua classe pode ser vencedora, basta que reclame para si a riqueza que gera e que outros acumulam.

Odete Costa

imagem: "Sem título". flickr.com/Lanpernas Dospuntozero

 

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